O que um poeta brasileiro do século 21 tem a aprender com o haikai?

A poesia está ligada a uma mudança profunda do jeito como passamos pela vida e sentimos o mundo.
Sejam bem-vindos à formação de poesia  MÍNIMA LINHA INFINITA. Todas as semanas, novos materiais são publicados na área de membros. Por meio das aulas e do espaço de oficina, você terá tudo que precisa para entrar no universo do haikai e transformar sua poesia.

O QUE VOCÊ ENCONTRARÁ NO CURSO?

aulas exclusivas

Conteúdos semanais para mergulhar no mundo do haikai, entender essa forma de fazer poesia forjada numa cultura e língua tão distantes, questionar o que aqueles poemas mínimos têm a nos ensinar sobre a escrita de poesia hoje e, assim, emergir no nosso próprio mundo, com os sentidos mais aguçados e a pena mais precisa.

oficina de poesia

Encontros virtuais ao vivo com atividades práticas de criação que vão além do texto., porque não se trata de fazer exercícios de escrita. Faremos experimentos de vida-escrita, para escrever a partir de pequenas alterações no nosso modo de passar os dias Abrir-se para que o mundo à volta converse conosco – e aí sim escrever.

COMUNIDADE EXCLUSIVA

Acesso exclusivo ao espaço de oficina, diálogo e formação, onde os participantes poderão compartilhar seus processos, acompanhar os encontros ao vivo e tirar dúvidas com a monitoria do curso.

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SOBRE O TARSO

Tarso de Melo (Santo André, 1976) é poeta, professor universitário com doutorado em Filosofia do Direito pela USP e coordenador da coleção Círculo de Poemas, da editora Fósforo. Seus livros mais recentes são: ''Rastros: antologia poética [1999-2018]'' (martelo casa editorial, 2019), ''As formas selvagens da alegria'' (Alpharrabio, 2022) e ''Um mergulho e seu avesso'' (Impressões de Minas, 2022).

TEMAS ABORDADOS

§ toda palavra é um poema

Cada palavra da língua japonesa é uma obra de arte visual – o “kanji”, um ideograma que apresenta, numa imagem sintética, o que quer representar. Isso faz com que a experiência do leitor seja igual à de quem observa uma pintura, que em cada detalhe, em cada recorte, dá a ver aquilo de que fala. Mas, mesmo na língua portuguesa, tão distante dos “kanji”, o aprendizado dessa palavra-pintura é capaz de revelar que o poema se compõe de palavras-poemas, porque cada palavra da nossa língua, por caminhos diferentes, contém tudo aquilo de que um poema é feito. Por isso, pode-se dizer que o haikai nos transforma como leitores – de poesia, de prosa, do mundo – antes mesmo de nos transformar como poetas, porque transforma nossa sensibilidade.

§ o caminho da poesia

A tradição do haikai é profundamente ligada ao zen budismo e pode ser compreendida como uma de suas “práticas”. A palavra japonesa “dô” costuma ser traduzida como “caminho”, mas tem também o sentido de “arte” e “prática”. Não se deve confundir o budismo, ainda mais da vertente zen, com uma religião ou uma filosofia no sentido que essas expressões têm para nós ocidentais. O praticante do zen é antes de tudo alguém que se dedica a uma arte (que também não coincide totalmente com o sentido de arte para nós), que pode ser a do chá, a da escrita, a do karatê, entre tantas outras, como a poesia, até que essa arte seja sua forma de passar pela vida. Até que esse caminho seja sua forma de meditação e de respiração, sua forma de existir plenamente – e escrever.

§ as lições do haikai

Conhecer a história e a natureza do haikai é fundamental para essa viagem: os elementos característicos do haikai desde o Japão antigo, os principais nomes da tradição e suas obras, as características de suas poéticas singulares, a relação com outras formas de poesia no Oriente e no Ocidente etc. Costuma-se destacar, nessa longa e bela história, a presença de quatro grandes poetas: Matsuo Bashô (1644-1694), Yosa Buson (1716-1784), Kobayashi Issa (1763-1827) e Masaoka Shiki (1867-1902). Em torno de suas obras, que, a um só tempo, revelam os traços essenciais de uma tradição e os diferentes caminhos que se abrem para cada poeta, pode-se experimentar toda a densidade da experiência do haikai e, claro, encontrar nossos próprios caminhos.

§ a coragem de não dizer

Uma outra forma de olhar para o haikai – e aprender com ele – é prestar atenção à forma como o poeta lida com o silêncio. Como o poeta decide até onde deve dizer: até que ponto vai usar as palavras para mostrar e, assim, fazer com que o leitor comece a ver por si próprio ou imaginar, seguir em frente fazendo sua parte do poema. Essa coragem de não dizer, de parar de dizer, é também uma grande generosidade com o leitor, que é convidado a construir o seu poema a partir das poucas palavras que o poeta lhe entrega. Na tradição ocidental, há algumas formas que parecem se dedicar a reduzir a colaboração do leitor ao mínimo, formas bastante argumentativas de poesia, que pretendem cercar todos os lados do tema e dar a última palavra sobre todas as coisas. No haikai, por sua vez, estamos sempre diante de uma primeira palavra sobre algo, como um convite para andar junto, sempre com a mesma cautela do poeta, que nos ensina a escolher muito bem as palavras e somente macular o silêncio quando for inevitável.

§ (n)o mínimo, (n)o máximo

No mínimo, o máximo. O mínimo, no máximo. O haikai ensina também a passar pelo mundo observando tudo que há de grandioso naquilo que é aparentemente ínfimo e desprezível, bem como reparando as pequenas maravilhas que se escondem à sombra dos monumentos, alguma harmonia sufocada pela algaravia, uma beleza fora de foco. Quando Buson dedica um haikai a dizer que “em campo aberto/ o sumo sacerdote/ defeca” ou Issa registra um “grilo de passagem” que lhe faz “cócegas na cara”, não estão sem assunto, como poderiam pensar os leitores que associam a poesia a “grandes temas”. Eles estão, na verdade, dizendo: este é o assunto da poesia! Não é apesar da “vida besta” que a poesia se revela para nós, mas justamente nela, nas coisas pequenas e bestas, naquilo que está além da nossa vontade e do nosso controle. O haikai nos lembra, bem diferentemente dos grandes poetas desta outra banda do mundo, que só temos acesso ao Amor, à Morte, à Vida etc. em suas formas minúsculas, como o amor cotidiano (aliás, ouçam a magistral “Cotidiano” de Chico Buarque), a morte que invade nossos afetos, a vida que acontece de infinitas formas à nossa volta. É dela que devemos cuidar.

§ a experiência do poema

Existem muitos lugares em que os poetas cultivam e colhem seus poemas. Há poetas da mais pura imaginação, que criam um universo todo seu para o qual convidam os leitores: lá, todas nossas referências, colhidas no mundo em que vivemos, parecem não servir para muita coisa. O haikai, no entanto, ensina a cultivar e colher poemas na experiência concreta, no chão que verdadeiramente pisamos, bem como a levar nossas referências para dentro dos poemas que recebemos. E isso não significa expulsar a imaginação da poesia, mas fazê-la conversar de outro modo com o que nos cerca, costurando os elementos que parecem soltos diante do nosso olhar. Quando Shiki diz que “deixa de chover/ e rapidamente as formigas/ refazem os caminhos”, tudo leva a crer que ele, de fato, está fotografando essa cena, mas bem pode ser que ele apenas esteja imaginando algo muito real e despertando nossa imaginação a partir do real, porque logo nos faz pensar em chuvas, formigas e caminhos que estão próximos de nós, mas que também podem significar, por exemplo, a necessidade de seguirmos nossos caminhos, como as formigas, depois das tempestades que encontramos pela frente.

§ silêncio por todos os lados

Um aspecto distintivo interessante do haikai, em paralelo à poesia discursiva, é que os pequenos poemas parecem brotar não de uma massa de palavras que vai sendo moldada pelo poeta, mas, pelo contrário, irrompem de um silêncio que se espalha por todos os lados. Pode-se dizer que, no mundo do haikai, o silêncio é a regra e a palavra, a exceção, ao passo que a tradição ocidental, tantas vezes caudalosa e formal, parece jogar outro jogo, em que o poema é a uma espécie de momento alto das diversas camadas de linguagem escrita (o jornalismo, a teoria, a prosa etc.) com que cobrimos nossos dias. É interessante imaginar, a partir do exemplo do haikai, o poeta como alguém que atravessa o mundo em silêncio e recolhe apenas as palavras absolutamente necessárias para sua sobrevivência. Ele não vai à rua com um discurso que antecede sua relação com as coisas; ele sai desarmado de discursos e apenas deixa os sentidos todos bem atentos para o que o mundo à sua volta queira dizer.

§ ruído por todos os lados

Refletir sobre a relação entre palavra e silêncio, algo tão evidente quando lemos o haikai, é fundamental para todos os poetas. E talvez seja ainda mais importante para poetas que vivem cercados de ruído por todos os lados, como nós, que carregamos nossos ruidosos aparelhos eletrônicos enquanto andamos em meio à massa sonora de incontáveis motores, atritos, aflitos. Em nossa época, muito distante e diversa do ambiente em que Bashô e seus parceiros caminhavam (imaginem essas figuras solitárias cruzando quilômetros de mata sem encontrar nada além de vegetação densa, animais, insetos durante semanas), é raro o momento em que alguém consegue estar e conversar a sós consigo. O haikai, de certo modo, remete a esse empenho para conversar consigo, sozinho, sobre a vida – e (fazer) ouvir cuidadosamente cada palavra.

§ onde o poema começa

Não é uma regra (e o que menos se quer aqui é reduzir a riqueza do haikai a um conjunto de regras), mas podemos dizer que o haikai ensina que a poesia nasce do desvio. Um desvio da nossa atenção, do nosso destino, do nosso caminho. Muito já se afirmou que a poesia nasce do extraordinário, das paixões acachapantes, ou até que não há poesia sem uma “vida revolucionária” – e isso intimida muito aos poetas que sentem viver apenas as vidas minúsculas. O haikai, entretanto, não diz que a poesia pode prescindir do extraordinário. Na verdade, ele ensina a perceber essa vida de paixões e revoluções de uma forma muito mais próxima: tudo é único à nossa volta. É possível ouvir, por trás de cada haikai, a afirmação de que estamos cercados – e também repletos – de coisas e fatos extraordinários, enquanto nos afogamos na vida ordinária. O poema nasce do espanto? Sim, mas esse espanto se torna muito mais cotidiano à medida que me abro para ouvir e ver e sentir as pequenas vibrações da vida ao meu redor. Numa cena infinitas vezes repetida na natureza, ao seu redor e ao nosso redor, Bashô faz brilhar o poema: “rebento de bambu –/ uma gota de orvalho/ desce pelos nós”.

§ onde o poema termina

O poeta mexicano Octavio Paz (1914-1998), decisivo tradutor e divulgador do haikai, fez um importante alerta sobre a poesia de Matsuo Bashô: “sua simplicidade é enganosa, lê-lo é uma operação que consiste em ver através de suas palavras”. Paradoxalmente, ao recolher-se em três curtíssimos versos, o haikai convida os leitores para uma aventura do poema sem fim – e isso talvez explique a paixão que esses pequenos poemas seguem despertando em tantas línguas e culturas tão diferentes, fazendo com que queiramos não apenas degustá-los repetidas vezes e até escrever como haijin (o poeta que escreve haikai), mas também viver o haikai: deixar-se transformar por essa forma de ver e viver o mundo. Por que não? Pé na estrada!

espaço de oficina

Encontros virtuais ao vivo com o professor Tarso de Melo, incluindo atividades práticas de criação que vão além do texto, porque não se trata de fazer “exercícios de escrita”. Faremos “experimentos de vida-escrita”, para escrever a partir de pequenas alterações no nosso modo de passar os dias: visitar um bairro desconhecido, voltar a um bairro da infância, descer no ponto “errado” do ônibus, conversar e ouvir a conversa de estranhos, enfim, observar e sentir tudo aquilo que evitamos normalmente. Abrir-se para que o mundo à volta converse conosco – e aí sim escrever.

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Você tem uma garantia de 7 dias a partir da data da inscrição. Caso sinta que o curso não é para você, basta enviar uma mensagem para contato@escritacriativa.net.br e cancelaremos sua participação.

SOBRE O CANAL

Escrita Criativa é organizado pelo escritor e professor de criação literária Tiago Novaes. Através de cursos online, podcast e conteúdos gratuitos nas redes sociais, o canal apresenta os recursos e reflexões para que escritores possam construir uma disciplina autoral, escrever o seu livro e publicar da melhor maneira possível.

Tiago Novaes é escritor, tradutor, professor de criação literária e doutor em Psicologia pela USP. Publicou o livro de contos "Subitamente: agora" (7Letras) e os romances "Dionísio em Berlim" (Quelônio), "Os amantes da fronteira" (Dobra), "Estado Vegetativo" (Callis) e "Documentário" (Funarte), que acompanha o longa-metragem "Herança", dirigido e editado pelo autor. Sua publicação mais recente é "Baleias no Deserto: o corpo, o clima, a cura pela terra" (Rua do Sabão).

PERGUNTAS FREQUENTES

Trata-se de uma formação integral com duas aulas por semana: uma aula disponível na plataforma, liberada semanalmente; e um encontro ao vivo por semana com o professor Tarso de Melo, no modelo oficina de escrita. A formação também inclui acesso à comunidade exclusiva do curso. Na plataforma de aulas e na comunidade exclusiva, você terá acesso aos seguintes materiais:

1. Aulas acerca de temas que se interpenetram e complementam, girando em torno da poética inesgotável do haikai, porque é nessas muitas entradas e saídas do haikai que nos divertiremos. Aprendendo, sempre. E muito.

2. Oficina com encontros semanais ao vivo, incluindo atividades práticas de criação que vão além do texto, porque não se trata de fazer “exercícios de escrita”. Faremos “experimentos de vida-escrita”, para escrever a partir de pequenas alterações no nosso modo de passar os dias: visitar um bairro desconhecido, voltar a um bairro da infância, descer no ponto “errado” do ônibus, conversar e ouvir a conversa de estranhos, enfim, observar e sentir tudo aquilo que evitamos normalmente. Abrir-se para que o mundo à volta converse conosco – e aí sim escrever. O primeiro encontro da oficina será no dia 24 de setembro de 2024, finalizando no dia 5 de novembro de 2024.

3. Acesso aos bônus oferecidos, caso se aplique.

Importante: a presença na comunidade exclusiva é discricionária e está condicionada ao cumprimento das boas práticas e regras de participação.

Porque se eu te oferecer todas as aulas de saída, das duas, uma: ou você vai assistir a tudo em uma semana e irá registrar muito pouco do que assistiu. Ou você vai se sentir sufocada ou sufocado com o tamanho da missão e vai desistir. E estou aqui para que você não desista.

Vamos lá!

Semana 1 – a coragem de não dizer

Por onde começar? Vamos falar sobre voltar à folha em branco, como partir do silêncio e dar liberdade ao leitor. 

Semana 2 – as lições do haikai

Conhecer a história e a natureza do haikai é fundamental para essa viagem: os elementos característicos, o coletivo de Bashô e como desaparecer enquanto poeta. 

Semana 3 – toda palavra é um poema

O kanji como palavra-pintura; mesmo na língua portuguesa, esse aprendizado é capaz de revelar porque cada palavra da nossa língua, por caminhos diferentes, contém tudo aquilo de que um poema é feito. 

Semana 4 – o caminho da poesia (e vice-versa)

A palavra japonesa “dô” costuma ser traduzida como ”caminho”, mas tem também o sentido de ”arte” e ”prática”. O praticante do zen budismo, tradição profundamente ligada ao haikai, é antes de tudo alguém que se dedica a uma arte, que pode ser a do chá, a do karatê, entre tantas outras, como a poesia, até que essa arte seja sua forma de passar pela vida. 

Durante o curso, você terá acesso a um grupo exclusivo onde os participantes poderão trocar experiências, compartilhar dificuldades sobre o processo e apresentar ideias e colaborações. 

O curso conta ainda com pessoal responsável pelo Suporte & Monitoria do canal, que estará disponível para atender os participantes todos os dias úteis da semana.

Você pode assistir às aulas da plataforma virtual quando e onde for mais conveniente para você. A cada semana, uma aula nova será liberada, e você tem liberdade para montar os seus horários e assisti-la em seus dias e horários disponíveis. 

Aparte as aulas da plataforma, teremos encontros quinzenais ao vivo dentro da comunidade exclusiva. Os replays desses encontros sempre ficam disponíveis para que você tenha a chance de assisti-los, caso não possa estar presente ao vivo.

Você tem acesso à plataforma virtual e comunidade exclusiva por seis meses, contados a partir da data de compra.

Caso mude de ideia, poderá receber o seu pagamento integralmente em até 7 dias após a data de compra. Basta mandar um email para contato@escritacriativa.net.br dizendo que deseja cancelar a inscrição.

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