É uma dicotomia muito presente em oficinas:

“Tiago, como faço? Quando me preocupo em contar uma boa história, muitas vezes me esqueço da linguagem, do cuidado formal sobre o texto. Ou ao contrário, quando me aproximo da palavra, da sua fisionomia, a história perde o prumo.”

Será que dá para sentar, escrever o livro pensando na história que se quer escrever, e depois lapidar a linguagem?

É uma pergunta que pressupõe uma divisão. Como se o modo de contar não interferisse naquilo que estou contando, e na forma como estou contando.

Como se esta intimidade com a minha própria forma de dizer não tivesse influência no meu modo de pensar a história.

“Trabalhar o texto depois” fortalece uma noção de que a forma e a linguagem são perfumaria. Como se desse para enfeitar o texto depois de escrevê-lo.

A revisão faz muitas coisa. Dentre elas, é claro, está uma atenção geral sobre a forma – redundâncias, cacoetes, frases confusas, a busca de uma coerência e uma coesão internas, a eliminação de gorduras no texto. É um cuidado formal.

Mas se você não ativar esta atenção enquanto escreve a sua história, não importará muito se ela supostamente era uma boa história.

Não existe uma boa história que seja mal escrita. Inverto: um texto apressado nunca renderá uma boa história.

Se está interessado no tema, você pode assistir o vídeo Enredo vs. Linguagem na página do canal no youtube clicando aqui

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